Em 1892, os filhos do "magnata das antiguidades" Faustino Feltrinelli, ergueram em Gargnano - no lago Garda -, o que hoje é conhecido como Villa Feltrinelli. A Villa foi construída como mais uma casa de Verão de um "imperador" que estendia os seus domínios desde os bosques do norte de Itália, áustria, Hungria e Turquia aos mercados bolsistas e centros financeiros de Milão. Durante a sua construção, os dois irmãos Feltrinelli, Angelo e Giacomo, estavam ocupados no desenvolvimento e expansão do império que o seu pai, Faustino, havia iniciado em 1846. A intervenção da família Feltrinelli nas estruturas públicas de Gargnano foi notável: em 1903 construíram o hospital e o lar; em 1913, a estrada que ligava os pequenos vilarejos das montanhas de Navazzo, Sasso e Liano a Gargnano; e, em 1921, a escola primária.Em 1913, a propriedade da Villa passou para o neto Carlo Feltrinelli, que expandiu ainda mais a sua já imensa fortuna. Era um homem cultíssimo, exímio pianista e arguto financeiro. Casou com Giovanna Gianzone, hoje recordada como uma senhora rígida como um oficial prussiano, sempre com um monóculo no olho direito - que perdeu durante uma caçada. Em sinal de reconhecimento das suas contribuições para o florescimento económico do norte de Itália, o rei Vittorio Emmanuele II, concedeu à família, em 1940, o título de marqueses de Gargnano.Três anos mais tarde, em 1943, o governo alemão, na sua tentativa de estabelecer em Itália um regime "pró-Hitler", e no seguimento da rendição do rei, trouxe o exilado Mussolini e o seus ministros para o lago Garda. A sede do governo instalou-se em Salò, enquanto Mussolini assentou arraiais na Villa Feltrinelli, onde residiu até Abril de 1945 - segundo consta, os generais Rommel e Wolff terão pressionado o ditador italiano nesse sentido. Mussolini era, apesar das aparências, um prisioneiro na Villa Feltrinelli. Guardado por militares alemães, estava forçado a um humilhante isolamento. A pequena cidade de Gargnano que D. H. Lawrence descrevera - durante a sua estadia, em 1912 - como "um dos mais belos lugares da Terra", não era visto do mesmo modo pelo ditador.Após o trágico fim de Mussolini, a Villa regressou à propriedade da família Feltrinelli, nomeadamente para os irmãos Giangiacomo e Antonella. Como líder da editora Feltrinelli - uma das maiores e mais respeitadas de Itália - Giangiacomo publicou trabalhos de autores como Boris Pasternak e Tomasi di Lampedusa, autor de "O Leopardo", acordando a intelectualidade italiana para uma corrente literária que, até então, era deliberadamente ignorada. Mais tarde, tendo aderido ao Partido Comunista, Giangiacomo conheceu Fidel Castro, e utilizou a Villa como sede da sua campanha como candidato às eleições de 1948.Nos anos 60, a Villa foi o local escolhido para a festa de aniversário da editora e, pouco tempo depois, foi sbstituído da direcção do negócio pelo seu tio Antonio. Terá aderido então à militância política e terrorista, tendo morrido pouco depois num atentado falhado.Após esse período, a Villa permaneceu abandonada, até que o filho de Giangiacomo, Carlo, e a sua última mulher, Inge, decidiram vendê-la ao dono de uma grande empresa de construção civil de Brescia. Finalmente, em 1997, o hoteleiro Bob Burns comprou-a com a ideia de recuperar o esplendor passado, respeitando o